Barrados na Justiça, ex-prefeitos elegem suas mulheres no estado do Rio

De 92 municípios, em apenas oito há eleitas; seis delas têm maridos que não puderam concorrer

POR RUBEN BERTA
Em Saquarema, a prefeita Manoela e o marido, Antonio, barrado no TRE

RIO — Num estado onde as mulheres são 52,3% da população, segundo o censo de 2010 do IBGE, os números frios, por si só, das eleições municipais fluminenses já não seriam animadores: apenas oito (8,7%) das 92 cidades terão prefeitas assumindo o cargo em 2017. Mas um detalhe chama ainda mais a atenção: seis delas são mulheres de ex-prefeitos que não puderam testar a popularidade nas urnas este ano por impedimento judicial. Na lista das condenações contra seus maridos, constam principalmente mau uso de dinheiro público e abuso de poder político e econômico.

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Entre as prefeitas eleitas, há três casos de mulheres que chegaram de última hora para concorrer, porque seus maridos tiveram as candidaturas indeferidas ou renunciaram. Eleita com 23.600 votos em Saquarema, na Região dos Lagos, a dentista Manoela Peres (PTN), mulher de Antonio Peres Alves, foi lançada após o marido ter a candidatura barrada pelo TRE-RJ, devido a uma condenação do Tribunal de Contas da União (TCU), considerada pelo juízo eleitoral como "irrecorrível". A acusação foi de superfaturamento na compra de ambulância, cujas investigações começaram na Operação Sanguessuga, da Polícia Federal, em 2006.
No Facebook, Manoela tinha até pouco tempo apenas sua página pessoal onde mostrava basicamente a rotina como dentista. Quando veio a eleição, criou outra, de figura pública, cuja foto principal é dela abraçada com o marido. Por e-mail, Antonio Peres Alves afirmou que não foi ele quem lançou a candidatura da mulher, mas sim "uma decisão coletiva do grupo político ao qual pertencemos". Sobre o caso que o impediu de concorrer, ele afirmou que não cometeu qualquer irregularidade na compra da ambulância e que continua a "buscar a reforma da decisão do TCU".
Caso semelhante ocorreu na cidade de Paracambi, na Região Metropolitana do Rio. No dia 30 de julho, Flávio Campos Ferreira, o Dr. Flávio (PR), lançou sua candidatura a prefeito. No dia 7 de setembro, porém, o TRE-RJ indeferiu o registro. O motivo citado pela juíza Bruna Tonial foi uma condenação do TSE relativa às eleições de 2010, que culminou com a cassação de sua suplência como deputado estadual e a perda dos direitos políticos por oito anos. A acusação foi de uso de cirurgias de laqueadura com fins eleitorais.


Dr. Flávio e Lucimar, eleita em Paracambi - Reprodução / Facebook

Após o registro ser indeferido, o PR lançou então em Paracambi a fisioterapeuta Lucimar Cristina da Silva Ferreira. Nas urnas, a identificação já deixava claro de quem ela é mulher: foi chamada de Lucimar do Dr. Flávio. Nos eventos de campanha, assim como em praticamente todas as fotos, não desgrudava do marido. Foi eleita com 12.686 votos, o dobro do segundo colocado na disputa. Dr. Flávio foi procurado através de seu advogado, Michel Saliba, mas não houve retorno.
Em Carapebus, no interior do estado, quem venceu, com 6.201 votos, quase o triplo do segundo colocado, foi Christiane Cordeiro (PP). Seu marido Eduardo Nunes Cordeiro renunciou em 31 de agosto. Em 2013, uma ação de improbidade administrativa referente a uma obra de saneamento no município culminou em sentença de perda de cinco anos dos direitos políticos, dada pela Justiça Federal.
JUNTOS NUMA SÓ VOZ
Na campanha e na comemoração da vitória, era difícil saber se o vencedor havia sido o ex-prefeito ou sua mulher. "Eduardo Cordeiro e Christiane, juntos numa só voz", dizia o jingle adotado pela candidata. O GLOBO tentou contato com Eduardo por telefone, mas não houve retorno.
Outra que usou o nome do marido, barrado pela Justiça Eleitoral na urnas, e conseguiu se eleger foi Margareth de Souza Rodrigues Soares, a Margareth do Joelson (PP), de Italva. Seu marido, inelegível até 2020, garantiu que não terá cargo:
— Vou ajudar em casa, com a minha experiência.
Em Araruama, apesar de o marido Chiquinho da Educação ser réu em diversas ações por improbidade administrativa e estar inelegível até 2019, sua esposa Lívia de Chiquinho (PDT) foi eleita com seis vezes mais votos que o segundo colocado este ano. No Facebook, o casal postou fotos este mês em Las Vegas após a vitória. O ex-prefeito não respondeu a perguntas enviadas por aplicativo de celular pelo GLOBO.
Outra que se elegeu no interior do estado, em São Francisco de Itabapoana, foi Francimara (PSB), mulher de Frederico Souza Barbosa de Lemos, inelegível até 2020. Ela não respondeu às perguntas enviadas pelo GLOBO até o fechamento desta edição.
No Estado do Rio, ainda assumirão o cargo de prefeita em 2017 Carla Machado (PP), em São João da Barra, e Fátima Pacheco (PTN), em Quissamã.

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