Antônio Melo: palhaços, mortadela e tramontina

Antônio Melo
jornalista

Nos lugares de honra, sete vetustos magistrados de togas pretas, ornados por um atento cristo crucificado de quem ninguém se dá conta. Melhor seria, não estivesse naquela parede, tais os pecados cometidos na sua presença. Nos púlpitos revezam-se senhores e senhoras de ternos ou terninhos, igualmente togados, compenetrados, atentos. Por incrível que possa parecer, esta é a seleta plateia.

Do outro lado, no poleiro do circo, estão mais de 200 milhões de palhaços. Parte deles são os milhões de brasileiros invisíveis do salario mínimo; outros 13,5 milhões são desempregados e sem salário; mais outros são os 100 mil estudantes cegados pelos obscurantistas que extinguiram o programa Ciência Sem Fronteiras e que agora querem acabar com a Olimpíada de Matemática; já os explorados em trabalho análogo ao da escravidão que pela primeira vez nem tiveram direito à divulgação da lista negra das empresas que os exploram porque o ministério do trabalho proibiu, também compõem o absurdo espetáculo. Apertados junto a eles ficarão os 3,6 milhões de novos pobres que o Brasil terá ao final 2017, segundo relatório com previsões do Banco Mundial e os milhões de nordestinos abandonados até quando "Deus der bom tempo e acabar com a seca porque de governo ninguém ouve nem falar". Há lugar garantido também para as mães encarceradas que roubaram pacotes de fraldas, frascos de xampu ou latas de leite e que amamentam seus filhos através das grades da cadeia enquanto a mulher do ex-governador Sérgio Cabral, sem nenhum filho a amamentar, vai para casa cuidar dos dela, pré-adolescentes. Jovens, sadios, faltando uma perna -os pedintes que a recessão, vizinha prestativa da marginalidade jogou nas esquinas e sinais de trânsito também estão ali assustando os que diariamente os empurram para participar desse espetáculo grotesco que patrocinamos; os sem teto e sem emprego, chamados de vagabundos, curvam-se ante a seleta plateia de juízes e promotores com teto que recebem, além de gordos salários e mordomias, auxílio moradia...

Agora silêncio! O espetáculo vai começar! Lá, diante do Cristo silente, os acertos todos foram consumados. O julgamento da presidente eleita pelo povo junto com o seu vice e cassada pelo congresso, vai (ia?) começar.

Mas as partes se acertaram. Ninguém quer o julgamento. Só o relator, coitado. Tanto trabalho. Decide-se pela oitiva (palavra mais feia e sinônimo que não está nos dicionários, de adiamento) de testemunhas. Depois vêm as provas. Depois contraprovas. Depois novas testemunhas. Depois férias forenses. Depois novos ministros. Depois posses. Depois novo relator. Depois, pedido de vistas. Depois alegações da defesa e do ministério público eleitoral. Depois ... Férias forenses outra vez que ninguém é de ferro. Depois, Carnaval. Depois, semana santa. Depois, Copa do Mundo, Rede Globo. Plim-Plim Brasil. Eleições. Bem, deixa pra lá porque afinal...

...Lá, eles já se entenderam.

E aqui eles precisam que a gente não se entenda.

Portanto, pra uns, sanduiche de mortadela. Pra outros, panelas Tramontina, babás fardadas e carrinhos de bebê.

Afiem seus desaforos e partam para a briga.

Então, fica combinado assim: vamos nos xingar nas redes sociais, desfazer velhas amizades, compartilhar desaforos. Como disse um amigo, o meu bandido é bom e o seu bandido é mau. Somos simples "massa de manobra", palhaços do circo Brasil.

Só os políticos, é? – O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) investiga em dois processos a cartelização do mercado de câmbio. A brincadeirinha teria dado um prejuízo aos exportadores brasileiros de 70 bilhões de reais. O primeiro processo envolve bancos internacionais e é desdobramento de um similar que corre nos Estados Unidos. Os bancos naquele país já fizeram um acordo e desembolsaram 5,6 bi de dólares. Aqui, estão enrolados, no processo internacional do Cade, HSBC Bank Brasil, Citibank, BTG Pactual, BNP Paribas e BBM. O outro processo investiga a maracutaia aqui no Brasil e envolve ABN AMRO, Fibra, Itaú, Santander e Societé Generale Brasil.

E ainda falam dos políticos...

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