Antônio Melo: Se é jornalista, informe. Não esconda.



Por Antônio Melo
Jornalista

A notícia quase sempre incomoda. Mas é dever dos jornalistas e dos empresários de comunicação publica-las. Esconder, censurar, maquiar não é jornalismo, é infração ética grave.

A imprensa que se diz grande, bate-se diariamente pela transparência de toda e qualquer informação nos órgãos públicos. Não poderia ela, portanto, ser caixa-preta, túmulo de verdades, cofre dos segredos de interesses menores dos seus patrões escamoteados aos olhos e ouvidos da sociedade, único patrão a quem deveria servir. Mas não.

Há mais de uma semana foi divulgada a chamada lista de Fachin. Novidades apenas a profusão de nomes e –maior- a inclusão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso dentre aqueles que devem ser investigados.

A rede Globo, incluindo aí a Globonews, tem dedicado praticamente todos os seus telejornais a tentar passar para a opinião pública que já existem provas suficientes para condenar o ex-presidente Lula. Não importa o mundo nuclearmente pendente nas patéticas cabeleiras de Donald Trump, dos Estados Unidos e de Kim Jong-un, da Coreia do Norte. No dia mais tenso em que um porta-aviões nuclear americano chegava bem próximo aos mares coreanos, ao contrário da mídia do resto do mundo, o Jornal Hoje não dedicou ao conflito iminente e nem as causas da inclusão do nome de FHC, um único segundo. Mas a delatores falando do ex-presidente Lula, todo o seu tempo.

Por que me atenho à Rede Globo? Porque, indiscutivelmente, segue como maior audiência, informando a grande maioria dos brasileiros. O plim-plim global é um eco que vai do Oiapoque ao Xuí. E é aí que mora o perigo. Com tanto poder, a Globo faz e desfaz.


Ou não?


Há três longos anos ela, Veja e IstoÉ vêm sistematicamente fazendo uma campanha para provar que o ex-presidente Lula é ladrão. Se conseguir, cadeia com ele. Para isso o trio não mede esforços: cronistas raivosos, direitistas empedernidos e radicais, ex-porta-vozes da ditadura, fontes que preferem ficar no anonimato...

Provas do ministério público alardeadas por essa grande imprensa: um pedalinho, um batom, uns vidros de remédio, roupas íntimas, registro de entrada na portaria; um terreno dado como propina para ser sede do instituto mas que nunca foi sede e que hoje funciona como uma loja de conveniência e posto de gasolina e não pertence ao citado instituto; uma denuncia grave de pedir ajuda de 3 mil reais para o irmão e apoio para liga de esporte do filho quando já não era presidente; realização de falsas palestras mesmo estando listados entre os contratantes a Microsoft, a Ambev, a LG e a InfoGlobo (lista completa no site do Instituto Lula); ser o verdadeiro proprietário de um apartamento ao lado do que reside em São Bernardo, embora o registro em cartório tenha como proprietário outra pessoa; ser o beneficiário da conta "amigo" com quase 50 milhões sem que até hoje se tenha provado onde foi parar esse dinheiro mesmo com os sigilos bancários, fiscais e telefônicos do ex-presidente, da sua falecida mulher e de seus familiares quebrados; que usou recursos da Odebrecht na sua mudança do Palácio do Planalto e na construção do Instituto e que roubou objetos que deveriam ficar no acervo da Presidência, muito embora o ex-presidente FHC tenha dito que usou recursos do Bradesco, Itaú, Odebrechet e mais seis outras grandes empresas com as mesmas finalidades e que, igualmente, levou objetos que lhe foram presenteados quando era presidente pois, como Lula, seguiu uma norma que existe para isso na Presidência da República. Para completar, a Juíza Maria Priscila Oliveira, de São Paulo, mandou arquivar a ação do Ministério Público, capa de Veja e grande destaque na Globo durante muito tempo, que dizia que Lula era dono de um tríplex no Guarujá. A juíza disse que a denúncia continha apenas alegações vagas e erros grosseiros. A Globo não noticiou a decisão da juíza. Esperemos a capa da Veja.

Com novelas que fazem grande sucesso, principalmente na América Latina, Portugal, África e Caribe a Rede Globo começa a enxergar com mais clareza o fantasma da incredulidade. E com ela seguem seus dois parceiros de infortúnio, Veja e IstoÉ. Apesar de toda essa campanha, a cada pesquisa divulgada o Nordestino, o Semdedo, o Pinguço, o Analfa cresce junto ao eleitorado. A última é do Ibope, divulgada quinta-feira pelo Estadão: Lula chegou aos 47%. Sua rejeição continua alta: 51%. Mas já caiu 14% em relação à primeira pesquisa e vem diminuindo a cada rodada. Aécio já teve 41% de intenções de voto, agora tem 22%. A rejeição chega a 62. A de Serra vai a 58 com 25 de intenção de voto (era 32) e Alckmin também supera Lula batendo 54 de rejeição e 22% daqueles que votariam nele. Dória, a novidade, aparece com 24 de intenções e 32% de rejeição. Mas é o menos conhecido (44%) de todos. Marina caiu de 39 para 33%. E a rejeição aumentou.

Então, a chamada grande imprensa é mesmo tão poderosa assim? E o povo... idiota porque não acredita nela?

Agora me diga... você sabe por que Fernando Henrique Cardoso está na lista do ministro Fachin?


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