Edgar Moreno: Reflexão Contemporânea

Por Edgar Moreno
COSTA FILHO, João Batista da que também representa o heterônimo Edgar Moreno.

A cada dia o mundo é mais mundo. Convive-se com uma mescla espontânea, calculista e múltipla dos fatos, dos atos e o homem se pede em sua própria razão de ser inteligente e progressista. Na busca de uma perfeição inatingível e de soluções práticas aos problemas que o afligem, o homem pensa, repensa, ora não pensa, dispensa, cria, copia, deturpa, repassa, o homem faz e desfaz. As teorias viram fórmulas, as fórmulas somam aos inventos, que se consolidam em fama, tragédias, novos desafios. Já não há limites nem leis ao Homo sapiens, que a cada dia quebra um recorde: a hora encurta, o segundo multiplica-se, o homem faz-se “super”, o luxo vira lixo, o lixo luxo e o grande mundo já parece pequeno para os excessos, retrocessos e abscessos que o povoam. Cumpre-se o dizer dos nossos avós: “a roda grande passa pela pequena”. É o progresso que o homem constrói.


Mas será a evolução progressista que está a tornar o homem menos homem? É o descaso aos padrões sociais, étnicos e morais, próprios dessa espécie “superior”. Esquece-se de privilégios como a imagem e semelhança divina e de virtudes tão caras como a modéstia e a fraternidade; praticam-se o egoísmo e a negligência, verdadeiros entraves à compreensão do homem pelo próximo e por si mesmo. O homem animaliza-se em seu próprio habitat, os bons modos se rarificam, enquanto prolifera-se todo o tipo de violência: violência física, moral, política, econômica, jurídica, abusos e omissões humano-sociais. Há um fio de paz que se recolhe ameaçado; quebra-se a esperança de esperança justa e ajustes sociais; viola-se o inviolável; corrompem-se os sedentos de justiça; evapora-se a honra; solidifica-se a dor moral; vela-se a vida.


A cada dia o mundo é mais mundo e a humanidade carece cada vez mais daquele apego fraterno, cívico e moral que só engrandece o homem, a pátria, a vida. Morrem os bons modos e costumes como morre a luz do candeeiro. O tempo não anda, corre. O homem sobrevive à sua própria sorte: cego para os seus malfeitos, surdo para a voz da consciência, mudo para o gemido da paz, coxo para as boas práticas inebriando-se em seu próprio veneno.


Não há vexame em remediar, vive-se. Tudo acaba por normal, até a crítica aprende a conviver com as mazelas e infrações sociais, cada vez mais, mais, mais... e o homem cada vez menos.

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