Antônio Melo: As muitas Genis do Brasil.

Por Antônio Melo
Jornalista


A Geni do Brasil são os políticos. Todos ou qualquer um. Sinônimos de corrução, símbolos da propina institucionalizada, de privilégios escandalosos. Eles, sempre eles. Os responsáveis por trazer de volta a expressão mar de lama que Carlos Lacerda, como capitão da nau da direita com ela naufragou no suicídio de Getúlio Vargas.


Sobrevivente da tormenta que levou o ditador ao altar da história, Lacerda emergiu do fundo lamacento com a nau de insensatos para, mais uma vez, atiçar sua cantilena incendiária contra os políticos principalmente contra o presidente João Goulart. Buscou capitanear a nau que afundara. Mas o timão da direita já estava nas mãos armadas do general Muricy e da raposa de Minas, Magalhães Pinto.

Lacerda -abraçado a uma ridícula metralhadora para "defender a democracia" que ajudara a demolir-assistiu do seu gabinete no Palácio da Guanabara não só à passagem dos tanques, mas cassações e prisões de políticos, prefeitos, governadores, deputados; banimentos, confinamentos, deportações. A tudo apoiou. Era a "revolução redentora". Estava salvando o Brasil do comunismo, da corrupção dos políticos. Do povo que não sabia votar. E ele aplaudia, como aplaudiu as cassações de Juscelino, Jânio. De todos.
Até que chegou a sua vez. A criatura devorou o criador, por inservível. Carlos Lacerda foi condenado à sua pequenez.


Vire a página.

A introdução deste artigo tem uma razão de ser. As esperanças para depois da crise. Quando tudo passar vai renascer um país novo, forte, honesto, pronto para o desenvolvimento. Agora é preciso descer o cassete nessa cambada de políticos corruptos e na meia dúzia de empresários safados, entregar o país a uma nova geração de empresários, como Dória. aí tudo vai dar certo. Deixa só o Moro pegar eles. Xilindró com essa corja. É sempre assim.


Essa receita mágica, milagrosa, mandrake já está nos levando ao autoritarismo. Os poderes estão sendo subvertidos. O judiciário manda o legislativo fazer nova votação de um projeto de medidas contra a corrupção enviado ao legislativo por procuradores da república. Ou seja: procuradores e juízes legislam. O executivo, também, por medidas provisórias, sem autorização do legislativo, do povo. Porque o legislativo é a casa do povo. Então ao povo, bananas.


Mas tudo se explica.


Os senhores procuradores e magistrados dão entrevistas coletivas, pedem e os juízes concedem conduções coercitivas, esgrimem teses de juridiquês que não estão nos compêndios do direito, exibem powerpoints mandrakes para defender um moralismo que não praticam. Isso mesmo. Flagrados nadando de braçadas no mar de privilégios em que se esbaldam, justificam-se dizendo que tudo que recebem é legal. E é verdade. A escravidão também era legal.


Mas será moral um procurador ou um membro do judiciário receber auxílio moradia, mesmo tendo casa própria? auxílio creche –mesmo quando não tem mais filhos em idade para esse benefício,? auxílio paletó, plano de saúde para os familiares e, muitas vezes, carro com motorista -e que nenhum desses benefícios precise comprovação e todos sejam isentos de imposto de renda?


Na última terça feira, a TV Cabugi, de Natal, mostrou que procuradores do MP e 149 juízes do Rio Grande do Norte receberam 100 mil reais além do salario normal, em média, no mês de abril. Teve procurador com 171 mil e juiz 179 mil no contracheque. Segundo a Procuradoria e o Tribunal de Justiça trata-se de férias e licenças-prêmios. Tudo legal. Mas é moral?


NãComoimaginar um novo Brasil surgindo da criminalização da classe política e do acobertamento dos crimes de consciência cometidos pelos cavaleiros do apocalipse? Ao que percebo, querem nos levar à execração ainda maior da classe política e ao endeusamento das atividades desses senhores, como garantia à manutenção dos privilégios imorais que usufruem.


O auxílio moradia deveria ser destinado aos que não têm teto; o auxílio paletó vestiria a miséria de dezenas de flagelados pela seca e pelo abandono dos governos; o auxílio creche ajudaria a combater a subnutrição de crianças pobres; o dinheiro usado para carros de luxo, combustível, motoristas seria melhor empregado na construção de privadas em escolas, como algumas existentes no município de Caxias, Maranhão, onde alunos e professores usam a mata como banheiro e uma folha de mato como papel higiênico.

Sim, joguem pedra na Geni. Na Geni política, na Geni judiciário, na Geni ministério público, na Geni empresário, na Geni mídia. Em quantas genís forem necessárias. Que se abram todas as caixas pretas. Ou então, correremos o risco, como na Itália, de parir um Berlusconi presidente ou, como nos Estados Unidos, onde o empresário e dono de cassino, Donald Trump, que em tudo e por tudo se assemelha ao nosso Jair Bolsonaro, está desfazendo a historia de democracia americana.

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