Edgar Moreno: Tô de férias

Por Edgar Moreno
COSTA FILHO, João Batista da que também representa o heterônimo Edgar Moreno.

Tô de férias, sim, pelo menos de modo oficial, no papel. Já não preciso acordar às seis, estar no trabalho às sete e pouco, tendo já passado parte da noite planejando aulas e tarefas afins.


Mas quero me apegar à ideia de que me iludo com isso. Não, não estou de férias. Pronto. Confesso. Explico. Um poeta nunca tira férias, muito menos um cronista se furta de sua rotina diária e certa: captar nas ruas e na vida o seu precioso texto, como um predador busca seu alimento certo e necessário. Talvez não coubesse aqui esse “predador”, mas andemos. Tô de férias para correções textuais. Esse me chegou de metido.


Todavia, se noutras demandas não tô de férias, aqui em casa também ninguém está, nem tu, leitor. Um dono de casa nunca tira férias, e isso se estende, sobretudo, para a dona de casa, para o pai, a mãe, o serviçal, este mesmo é que não tira. Os filhos, talvez. Mas aí é que eles acordam mais cedo, e ninguém merece tamanha disposição. Se, porém, são intimados a ajudar na faxina da casa, logo hão de alegar: “Estamos de férias, papai!” e se meto nisso a virtualidade, aí é que a coisa desanda e, ninguém, mas ninguém mesmo tira férias.

Mas volto a insistir: como seria bom usufruir desse direito sagrado, desses momentos gostosos que me traz o mês de julho. Ah, lembrei: o mês é de Júlio César, o general romano, não meu. E eis mais uma evidência de minha confissão.


Agora eu olho essas fotos e sorvo delas o imenso prazer e vontade de jogar tudo pro ar: compromissos, reuniões, visitas, WhatsApp, Face e faces, cachorros, os cambais..., despojar-me da gramática e da própria crônica e me deleitar nas páginas de um bom livro, à beira de uma límpida lagoa, ou mesmo numa escada, como vão aí nas fotos, nas quais apenas posei, sem contanto, estar de férias. Mas, tudo vale: a leitura, as escadas, a lagoa. As escadas sobem e descem. Ou servem para isso. Também mostram a nossa careca e o solado dos nossos pés. Já as lagoas servem de moradia às minhocas e dá certa beleza à cidade, se bem que melhor seria sem aquele cheiro insuportável da Lagoa da Jansen.


Mas deixo isso com o povo da capital. E a leitura? Ah, a leitora! É tudo o que eu mais quero por agora. Mas não aquela leitura cortada pelo almoço pelo meu carteiro mal-humorado, ou pelo toque do celular. Quero uma leitura que preencha o meu ócio, não o ócio dos quefazeres (pois isso é o que não falta), mas da própria leitura, em atraso, que esperem Esaú e Jacó. Isso tudo porque não tô de férias e vou lendo como a preguiça a subir pela imbaúba. Mas como a Dona leitura é uma senhora educada e doce e mais ainda compreensiva, vou lendo como posso.


Por fim, e para pôr cabo a essa falta de férias, quero fazer uma escolha por ti, leitor, uma gostosa escolha, isso se ficaste indeciso entre a escada, a lagoa e a leitura. Sugiro-te que entre “trambas” as opções, escolhas a leitura. Essa é inquestionável. É mestra. É realizável. É oportuna. É tudo que tu poderias fazer de mais proveitoso nestas férias. Mas, se te aprouver, esquece tudo que aqui foi dito e faz uma viagem. Vai gozar tuas férias!


Só um último lembretinho: não te esqueças de levar algum livro de que gostes. Só não viajo contigo, justamente

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