Antônio Melo: A mentira da reforma política

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Escreve-se muita besteira e dizem-se outras tantas todos os dias nas nossas tvs, jornais, rádios, blogs, faces, twits, rodas de conversas. Especialistas pontificam verdades mentirosas assombrando plateias desavisadas que, imediatamente, compram seus argumentos e saem por aí a repeti-los, até com o mesmo ar de devastadora sabedoria. Quer ver?


-Essa proposta de 3 bilhões e 600 milhões para financiar campanhas é um assalto. Um absurdo. Um descalabro. O Brasil tem a campanha política mais cara do mundo.


Só para a gente raciocinar: segundo dados oficiais –ou seja, sem incluir o famoso caixa 2- a campanha de 2010, de presidente da república a deputado estadual, custou 4 bilhões 830 milhões de reais. A de 2014, bateu nos 4 bilhões 920 milhões. Na primeira disputavam-se duas vagas para o senado. Na segunda, só uma.


Um simples olhar nesses números já mostra que tiraram uma gordura aí de mais de 1 bilhão e 300 milhões, com o que está sendo proposto.
Mas há o argumento de que temos a eleição mais cara do mundo. Talvez tenhamos, isto sim, os mentirosos mais caras de pau do mundo.

Os números das eleições brasileiras abrem as portas para mostrar a grande farsa encenada quase todos os dias. Mas vamos adiante.
Segundo matéria da BBC de Londres, citando a ONG Centro de Políticas Responsáveis que monitora o financiamento das campanhas políticas nos Estados Unidos, a última disputa por lá teve os seguintes custos, já convertidos para o real:

Presidente da República: 8 bilhões e 300 milhões em financiamento dos partidos; mais 3 bilhões e 100 milhões através dos superPACs –Comitês de Ação Política criados para arrecadar fundos ​​para campanhas a favor ou contra qualquer candidato ou iniciativa; senadores e deputados, 13 bilhões de reais. Somando-se tudo, temos 24 bilhões e 400 milhões de reais. Cerca de 8 bilhões de dólares.


Mas, você pode argumentar que comparar com os Estados Unidos não vale. Eles são infinitamente mais ricos que nós. Pois bem, fui buscar o exemplo do México que em uma época, economicamente, vai melhor, em outras pior do que a gente.


Vamos aos números:
De acordo com estimativas do México Avalia, um centro de análises dedicado ao estudo das políticas públicas daquele país, acreditado pela mesma BBC, a campanha para a presidência em 2012, que elegeu Enrique Peña Nieto, custou 6 bilhões de reais, cerca de US$ 1,9 bilhão. Só para a presidência.
As campanhas tidas como as mais baratas do mundo são as da França e a da Rússia. A França é um país assim um pouquinho maior do que a Bahia. Pouquinho mesmo. Excelentes estradas, trens por toda parte, embarcações servindo de meio de transporte de muito boa qualidade. Fazer uma campanha por lá é mão na roda. O máximo que um candidato a presidente pode gastar é R$ 70 milhões. Caso haja segundo turno, fica autorizado a investir outros R$ 26 milhões. Só para fazer uma comparação, os seis candidatos a governador da Bahia, em 2014, somados, gastaram oficialmente, 74 milhões de reais em 417 municípios.


Na Rússia, país de dimensões continentais, mas ainda engatinhando em termos de eleições, os custos chegam a 40 milhões de reais por candidato, que tem de usar seus próprios recursos. Há umas permissões não muito claras que autorizam doações dos partidos, de pessoas físicas e, até, jurídicas. Mas nada pode ultrapassar os limites.


Posto isso, agora toda vez que você assistir um entendido, como é moda, descendo a lenha na classe política, pense um pouco se não estão querendo lhe fazer de idiota. Pense no tamanho do Brasil. Em como é, por exemplo, fazer campanha no Amazonas, no Pará, Rondônia, Amapá. Por ali, as principais estradas são os rios. As carreatas dão lugar às barqueatas. Os candidatos, em muitos casos, necessitam hidroaviões, não por luxo, mas obrigados por nossas dimensões continentais e pela falta de infraestrutura para levar sua campanha a brasileiros que têm direito a ela. Pelo bem da própria democracia.


Nos tempos da Constituinte, grupos de deputados, oficialmente, adentraram esses brasis perdidos nos territórios do esquecimento para ouvir suas reivindicações. Ali descobriram, pleno país redemocratizado, que o presidente ainda era Getúlio Vargas. Este, ainda nem se suicidara. Para eles Juscelino, Jânio, Jango, Tancredo, Ulisses, Sarney eram nomes desconhecidos. Nunca tinham ouvido falar.


Demonizar a classe política está na moda.


Há políticos bandidos, sim. Que sejam erradicados. Mas sem a classe política só nos restará o breu da tirania dos déspotas esclarecidos, dos falsos moralistas, dos Trumpistas intolerantes.
A classe política somos nós. Nós a elegemos e reelegemos.


O congresso é a nossa representação, o nosso espelho. Não adianta quebra-lo. Ele apenas reflete quem somos.

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