Repórter Tempo
Ribamar Corrêa
Roseana Sarney e João Alberto com líderes do partido; Lobão Filho ouve discurso de Assis Ramos; e Sarney Filho faz festa com o apoio que vem recebendo do partido
Não foi um momento de tomada de decisões nem houve anúncios bombásticos, mas a reunião do PMDB, realizada sexta-feira, em São Luís, emitiu todos os sinais de que o partido começa a cumprir o que já estava claro no script: no embalo da sobrevivência do presidente Michel Temer e do poder de fogo que ganhou no plano nacional, o braço peemedebista do Maranhão vai entrar na briga pelo Governo do Estado tendo a ex-governadora Roseana Sarney como cabeça de chapa.
Vai brigar também por uma das vagas do Senado, e pela linha dos pronunciamentos e o ânimo dos presentes, a cúpula partidária sinalizou que o PMDB também vai investir pesado na eleição de deputados federais e estaduais. O encontro reuniu os mais importantes líderes peemedebistas no Maranhão de agora, sendo destacado o prefeito Assis Ramos, hoje no comando da Prefeitura de Imperatriz, a segunda maior e mais importante cidade maranhense, sendo também o seu segundo maior colégio eleitoral.
A julgar pelo tom dos discursos, além de uma óbvia injeção de ânimo nas suas bases, que foram trucidadas nas eleições de 2014 e tiveram uma reação tímida nas de 2016, o “conclave” dos cardeais peemedebista teve um objetivo maior: mandar um recado provocador ao governador Flávio Dino (PCdoB) de que ele e o movimento que lidera não terão vida fácil daqui para frente.
Isso porque o Grupo Sarney vai jogar todo o peso da sua estrutura e dos instrumentos de poder político que dispõe para sufocar o seu projeto de reeleição. Foi uma espécie de declaração de guerra prévia, mas com indicativos muito claros de que a banda sarneysista da política maranhense fará um super-esforço para aglutinar as forças dispersadas em 2014, para chegar a 2018 em condições de enfrentar as forças mobilizadas pelo governador Flávio Dino.
Embora não tenha confirmado sua candidatura, a ex-governadora Roseana Sarney falou como candidata: atacou o governador Flávio Dino, exaltou os governos que realizou e chegou a declarar que “está preparada” para a guerra, “se o partido assim decidir” – na verdade um mero jogo de palavras, porque no PMDB é ela quem decide. O seu estado de ânimo reflete a euforia que vem animando os bastidores peemedebistas desde que a Câmara Federal mandou para o arquivo morto a denúncia contra o presidente Michel Temer.
E também por resultados de pesquisas que dão e aos demais candidatos do Grupo Sarney a possibilidade de um bom desempenho eleitoral, ameaçado, porém, por percentuais nada desprezíveis de rejeição. Mas mesmo medido o peso e contrapeso, a avaliação geral do Grupo é de que o projeto de reinstalar Roseana Sarney no Palácio dos Leões a partir de janeiro de 2019 é viável. Outras avaliações não são tão otimistas, mas em relação a elas, líderes do quilate do senador João Alberto dizem que eventuais obstáculos serão removidos durante a campanha.
O PMDB e a ex-governadora Roseana Sarney sabem que o governador Flávio Dino é um adversário muito difícil de ser batido. Realiza o Governo reformista, que tem feito investimentos em meio a uma crise brutal, e que até aqui não convive com fantasmas de mala recheada de cédulas, lavagem de dinheiro, caixa dois com grana suja e outras mazelas que tiram o sono de muitos próceres da política. As pesquisas lhe dão avaliação positiva.
E na esteira desses pontos a favor, vem ganhando nítida projeção como um dos nomes fortes da esquerda no País. E para completar, poderá ter como aliado o ex-presidente Lula da Silva (PT). Esse conjunto de fatores favoráveis ao governador obrigará a ex-governadora a oferecer ao eleitorado muito mais do que o discurso de que fez bons governos, e que se eleita fará melhor. E poderá transformar a campanha numa guerra de fato, cruenta e sem trégua.
Isso não significa que o PMDB esteja blefando e que a candidatura venda a nascer natimorta. Ao contrário, se vier mesmo a ser confirmada, a volta da ex-governadora à seara eleitoral será o principal contraponto da poderosa máquina política e partidária que o governador Flávio Dino vem organizando para ser a base de sustentação do seu projeto de poder.
Com a experiência de quem já disputou o Governo do Estado quatro vezes (1994, 1998, 2016 e 2010), tendo vencido em três – duas em turno único -, Roseana Sarney e o PMDB conhecem como ninguém o mapa eleitoral do Maranhão. A quinta disputa funcionará como um teste para medir o tamanho do prestígio do Grupo Sarney numa eleição em que não terão controle da máquina pública estadual. Servirá também para medir o tamanho político do governador Flávio Dino e a consistência da sua liderança no comando do Estado.
PONTO & CONTRAPONTO
PMDB vai lançar um candidato a senador, deixando a outra vaga para Sarney Filho (PV)
Sarney Filho, Edison Lobão, Lobão Filho e João Alberto: acertos para o Senado |
Nada foi dito em relação à segunda vaga, mas o suplente de senador Lobão Filho assinalou que o candidato será seu pai, o senador Edison Lobão, e que na impossibilidade de da sua candidatura, ele, Lobão Filho, quer a preferência para entrar na disputa.
O empresário e suplente de senador corroborou o posicionamento do senador, que na semana passada dissera, em São Luís, que é candidatíssimo à reeleição. O senador João Alberto ainda não tomou posição sobre se será ou não candidato à reeleição, mas nos bastidores do Grupo Sarney corre a especulação de que, caso Roseana Sarney confirma a candidatura, ele será o candidato a vice-governador.
Em relação ao Senado, João Alberto declarou, semanas atrás, que abre mão do direito natural à vaga em favor de Sarney Filho, o que significa que ele jamais disputará uma vaga de candidato com Edison Lobão, com quem é muito afinado política e pessoalmente. A julgar pelo que tem sido dito em público ou em conversas reservadas, o partido lançará a chapa Sarney Filho/Edison Lobão ou Sarney Filho/Lobão Filho.
Sarneysistas enfrentarão nomes de peso apoiados pelo governador Flávio Dino
Weverton Rocha, José Reinaldo e Eliziane Gama: nomes fortes para o Senado aliados de Flávio Dino |
O outro nome em consolidação é o ex-governador e atual deputado federal Jose Reinaldo Tavares, que está rota de colisão com o seu partido, o PSB, e com o Palácio dos Leões. Também no caminho de disputar a senatória encontra-se a deputada federal Eliziane Gama (PPS), que pode fazer dobradinha com Weverton Rocha se José Reinaldo Tavares vier a romper de vez com o governador Flávio Dino, de quem vem divergindo em questões nacionais desde que votou a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).
Luis Fernando Dilva e Hilton Gonçalo: possibilidades remotas para o Senado |
E numa composição mais remota, aqui e ali vêm à tona candidaturas improváveis de prefeito de São José de Ribamar, Luis Fernando Silva (PSDB), e do prefeito de Santa Rita, Hilton Gonçalo (PCdoB). Ainda no movimento liderado pelo governador Flávio Dino surgiram, na semana passada, rumores de que o PT estaria articulando o lançamento de um candidato a senador.