Antônio Melo: No país dos Odebrecht, Silva não tem vez.

Por Antônio Melo
Jornalista

Os Silva, o cidadão comum, não têm vez. Para essa constatação, basta um olhadinha diária nos jornais. As notícias –as principais, pelo menos- não nos deixam fugir da realidade.


A famosa "operação lava jato" que levou ao estrelato o juiz Sérgio Moro tem, sim, suas virtudes. Mas, compensa-se com exageros, arbitrariedades e penas que são verdadeiros prêmios a criminosos.


E por quê?


De todos os supostos bandidos presos nas espetaculosas operações, para mim o maior de todos foi e é Marcelo Odebrecht. Frio e calculista, o executivo parido numa família que transformou uma empresa regional e familiar -abençoada pela força, o compadrio e a cumplicidade dos anos de chumbo e seus ditadores- em uma multinacional poderosa. E isso, claro, nos dava até um certo orgulho.


A Odebrecht, até então apontada como sinônimo do capitalismo que premia os empreendedores era, na verdade, uma organização criminosa que comprava autoridades, funcionários públicos, políticos. Não só no Brasil, mas mundo à fora. E Marcelo, o laureado e bajulado empresário, era na verdade o comandante de todas as operações criminosas do grupo.


Foi o próprio capo quem definiu o seu papel à frente da rede de subornos que se espalhou por quase todos os continentes, lançando tentáculos até nos Estados Unidos. E onde ia Marcelo ia a corrupção e seu exército de corruptores. Nas concorrências de que participava, o valor, não representava o orçamento da obra. Mas sim, o da propina a ser paga.


Foi subornando dezenas de políticos no Brasil e no exterior que a empresa crescia. Em contrapartida, ganhou bilhões e bilhões de reais, de dólares e euros.
De temperamento difícil, mesmo na cadeia Marcelo brigou e rompeu com a mãe a quem era muito ligado, com a irmã Mônica, com o cunhado Maurício Ferro um dos diretores do grupo, com Adriano Maia então diretor jurídico da empresa. Com o pai, Emílio, já havia rompido antes mesmo de ser preso, em 2015.


Agora, o rei da corrupção vai ser solto. Não importa que tenha subornado meio mundo, quebrado ou levado a sérias dificuldades grandes empresas, comprado o congresso nacional para aprovar medidas provisórias e leis do seu interesse. Não importa. Marcelo não é Silva.



O capo será solto dia 19, dois anos e meio depois de ser preso. A esposa já mandou reformar a casa preparando o escritório de onde ele irá comandar, mesmo que seja informalmente, os seus negócios. Um jatinho particular, de propriedade da empresa que agasalhou a mais notória organização criminosa do Brasil, deverá ir busca-lo.
E nós, como ficamos?

Bem, ficamos assim: Marcelo Odebrecht, condenado pelo implacável Sergio Moro, vai pra casa de tornozeleira por outros dois anos e meio.

Romeia Pereira da Silva, da Vila Planalto, no Distrito Federal, velha conhecida da polícia, foi condenada a 34 anos por ter em sua loja nove toca-discos roubados, que ela não soube dizer como adquiriu. Está cumprindo a pena já a seis anos.
Kelly Gomes da Silva, manicure em Brazlândia, periferia de São Paulo, outra reincidente, roubou quatro pacotes de fraldas. Ela também é reincidente em filhos, cinco. Foi condenada a sete anos e meio de cadeia. Já cumpriu dois.


E ninguém fala em redução de pena, prisão domiciliar, ou progressão de regime.
No país dos Odebrecht, depois da lava jato, todos são iguais perante a lei. Mas tem uns que são mais iguais que os outros iguais: os Odebrecht, não importa que sobrenome tenham, desde que não seja Silva, cidadão comum.

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