Antônio Melo: E nada mais será como antes

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Jornalista

Quando a queda da presidente Dilma era só mais uma questão de dias, dei uma entrevista para o jornalista Paulo Tarcísio Cavalcante, onde disse que aquele clima de beligerância poderia ter por vítima maior a cordialidade que sempre caracterizou brasileiros. A tolerância em conviver com os contrários, eu sentia grandemente ameaçada.

Infelizmente meus temores não eram infundados. As ruas estão aí para não me desmentir: assassinatos, agressões, ameaças em razão da disputa presidencial passaram a ser parte do nosso cotidiano.

Para onde estamos marchando (o termo é proposital)?

Fico pasmo quando vejo pessoas esclarecidas, inteligentes, lideres rezando na cartilha do bolsonarismo. E aí me pergunto: que cartilha é essa? O que diz? O que pensa aquele capitão? Qual sua posição diante dos graves problemas nacionais? O que sabe do nosso Nordeste? Da agricultura de sequeiro? Da questão indígena? Da terra? Do agronegócio versus meio-ambiente? Dos quilombolas que para ele são apenas uns vagabundos que nem para procriar servem mais? Dos homossexuais? Dos negros? Das mulheres que, segundo ele, devem continuar ganhando menos que os homens? Da Amazônia? Dos investimentos nacionais no exterior? Das relações comerciais? Dos nossos acordos internacionais? Do problema dos Sem Teto e dos Sem Terra? Do papel do Congresso (só uma casa de bandidos, apregoa)? Da magistratura, dos nossos tribunais? Do papel das Forças Armadas?

Esse homem é um poço de interrogações sem nenhuma resposta. Até porque muda de opinião com a mesma facilidade com que troca de camisa. Já foi contra gay, mas agora se deixa beijar por eles; desancou os pretos, mas insiste em fotos e filmagens tentando se desmentir; deixou entendido que não estuprava mulheres feias (as bonitas que se precatem)... e faz programa eleitoral falando sobre estupro; diz que vai combater a violência, mas quer entregar uma arma a cada brasileiro; defendeu que ao invés de se construir um milhão de casas para os mais pobres devia-se realizar um milhão de laqueaduras neles mesmos; promete fazer escolhas políticas para o Ministério Público; nomear mais 14 juízes para o Supremo e assim ficar com maioria naquela Casa; fazer um ministério com notáveis militares não pelos seus conhecimentos além-caserna; se diz combatente contra a corrupção, mas ainda não explicou a espetacular evolução do seu patrimônio; ou porquê escolheu para ministro um economista que está sendo investigado pela Polícia Federal por crime de estelionato; nem porquê uma assessora do seu gabinete dava expediente todos os dias em um balneário do Rio de Janeiro, vendendo assaí.

São tantas as interrogações sem respostas. Mesmo assim, é a esse político de atuação parlamentar medíocre que se quer entregar o nosso país.

Vai ser muito difícil para os inteligentes se explicarem depois. Vão dizer que não votaram em Bolsonaro, mas contra o PT. A mesma desculpa que utilizaram para justificar o voto em Collor depois de ajudarem o país a ir para o buraco.

Bolsonaro deve vencer a eleição. E o Brasil será o grande perdedor.

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