Antônio Melo: De ida para o passado


Antônio Melo, Jornalista - Fecho os olhos e revejo aquelas multidões de amarelinhos, peito estufado, bandeiras do Brasil em riste, para derrubar os quase 60 milhões de votos que elegeram Dilma Roussef, presidente. Queriam o “probo” Aécio Neves. Se não conseguiram no voto, correram para o tapetão para transformar um pato amarelo na fotografia do brasileiro de hoje: otário, bobo – um verdadeiro pato. E com o golpe meteram no lugar Michel Temer.
Vejo na telinha platinada a fotografia da viagem que fizemos ao passado, fixada pelas lentes irretocáveis do IBGE: mais 2 milhões de novos miseráveis gerados no esplendor de 2016 a 2017, sob a batuta do presidente Michel Temer. Somos agora 55 milhões vivendo a baixo da linha da pobreza, na maior de todas as misérias.
E somos também mais de 12 milhões de desempregados que seriam salvos pelos efeitos milagrosos da tal reforma trabalhista.
Onde estão os empregos que seriam gerados aos milhões quando ela fosse aprovada?
Mas, justiça se faça ao governo que vem aí: move-se pelo sentimento da piedade. Não dos 55 milhões de miseráveis ou dos 12 milhões de desempregados. Isso não. O presidente eleito, mas não empossado, proclamou em alto e bom som que é muito “difícil ser patrão neste país”, coitados. E ressaltou ainda que as mudanças (a reforma trabalhista que capou direitos dos empregados) havidas em 2017 deram “uma certa tranquilidade” ao empresariado. E que ele vai fazer tudo o que estiver ao seu alcance para aliviar esse peso das costas dos coitados.
Para os novos 2 milhões de miseráveis, nem uma palavra. Para os 53 milhões que já vêm comendo o pão que o diabo amassou desde que nasceram, coisa nenhuma. Nem mesmo uma palavrinha de esperança.
E é nessa viagem ao passado em que se transformou o governo de Michel Temer, que a nova administração parece buscar inspiração para o futuro que nos aguarda. Uma administração que nem começou ainda, mas que já tem por chefe do gabinete civil um confesso recebedor de propina; um quase ministro da economia investigado por suspeita de estelionato; uma futura ministra da agricultura acusada pela própria irmã, na justiça, de querer rouba-la em alguns milhões de reais, terras e cabeças de gado.
No gabinete do filho do presidente, deputado estadual Flávio Bolsonaro – assíduo papagaio de pirata nas entrevistas do pai- descobriram que um motorista (assessor parlamentar) fez uma movimentaçãozinha, flagrada pelo COAF, de 1,2 milhão de reais, ano passado. Soube-se ainda que esse afortunado servidor deu seu autógrafo num cheque, devidamente descontado, beneficiando a futura primeira-dama, dona Michelle Bolsonaro, no valor de R$ 24 mil reais. Desconheço outro caso de empregado que alivia as despesas da família do patrão.
Fabrício Queiroz, o assessor/motorista/segurança, além de tantas habilidades, deve também ser mágico. Multiplica dinheiro com surpreendente maestria. Jesus Cristo, coitado, só conseguiu multiplicar uns pãezinhos mixurucas. Fabrício foi mais além: fez diversas movimentações em espécie, na boca do caixa, com dinheiro –muito- tirado da sua conta de assalariado.
Ganha bem o rapaz.


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