Antônio Melo: Todo jornalista é um drogado


Antônio Melo, Jornalista - “O melhor período de Bolsonaro no governo foram os dias em que ele esteve hospitalizado”. (Médico natalense, 70 anos, eleitor de Jair Bolsonaro).

“O presidente está de mãos amarradas. Se continuar como está, não precisa mudar nada para ficar mal, já está mal. É só continuar isso mais seis meses e aí acabou.”. (Olavo de Carvalho, escritor e pensador de direita tido como um dos maiores mentores e influenciadores da candidatura e do presidente Jair Bolsonaro, responsável pela indicação de pelo menos dois ministros (educação e relações exteriores), esta semana em Washington em entrevista à Folha).
“Ele (Bolsonaro) não reage às fakenews porque aqueles milicos que o cercam é um bando de cagões”. (Olavo de Carvalho em entrevista a jornalistas em Washington, esta semana).
“Olavo de Carvalho é uma inspiração, sem ele Jair Bolsonaro não existiria” (Deputado Eduardo Bolsonaro, o Zero-Dois, filho do presidente, esta semana, em Washington).
Todas as afirmações ou comentários que transcrevi não são de opositores do presidente ainda nem cem dias no cargo. São de correligionários, adeptos, eleitor, filho, pessoas próximas a ele. Não fosse assim, seriam exageros próprios da oposição despeitada e inconformada porque o povo a preteriu.
Mas não são.
Tive o cuidado de poupar o leitor do palavreado surpreendentemente chulo do escritor e pensador Olavo de Carvalho, que, no dizer do Zero Dois, (Eduardo Bolsonaro) conforme os jornais, é “uma das pessoas mais importantes da história do Brasil”.
Sou um pouco ignorante da biografia de tão ilustre brasileiro, mas ao seu palavreado chulo cheio de c*, fo**-se, vá tomar no **, estou cag*****, p****, p*** fui apresentado como se estivesse numa noitada na boca do lixo, em São Paulo.
Mas nada disso se compara o linguajar deste “ilustre brasileiro” com a desenvoltura com que trata os militares integrados ao governo de Jair Bolsonaro, a começar pelo vice-presidente, general Hamilton Mourão, visto por ele como um “milico com intenções golpistas”, por quem nutre o maior desprezo. O vice é vaidoso e estúpido e “se elegeu com falsidades” tendo mudado de lado depois da posse “e não quer derrubar Nicolás Maduro. É um estúpido”.
Para Olavo de Carvalho o presidente tem que se afastar o mais rápido possível da ala militar do seu governo que considera uma má influência e que tem atuado desde o princípio com o único objetivo de prejudica-lo.
“Ele é um homem sozinho e devia parar de ouvir os maus conselhos dessa gente”, sentencia enquanto entusiasmado defende os acordos comerciais entre Brasil e Estados Unidos. Confrontado por um jornalista do Financial Times dizendo que os dois países são concorrentes na exportação de alimentos, Carvalho explica que “eles podem fazer uma aliança e vender para o mundo inteiro já que produzem metade dos alimentos do planeta”.
“Mas isso não seria a formação de um cartel?”, quis saber o repórter.
“Eu não chamei de cartel. Você está pondo palavras na minha boca. Você é um mentiroso. Não quero mais falar com você. Você é um mentiroso. Não falo mais com você”.
Deixando-se Olavo de Carvalho de lado, o fato é que o Brasil abriu a base de Alcântara para que os americanos façam lançamentos de foguetes de lá, o que o deputado Jair Bolsonaro, no dia 31 de outubro de 2001, governo de Fernando Henrique, ajudou a impedir com votos e discursos,­­ dizendo defender a soberania nacional quando estava na Câmara. Não importa. Voltou atrás e espera-se que o acordo venha a ser aprovado no Congresso e seja benéfico ao país.
O presidente americano -e o nosso, com empolgação- nos quer como membro da OTAN, a Organização Militar do Atlântico Norte. O que nos tornaria um aliado preferencial da aliança de países que a compõem. Com direitos e obrigações. Bem, a Venezuela que se cuide.
Por outro lado, Sua Excelência brindou os americanos e mais três outros países com a dispensa de vistos para seus cidadãos entrarem aqui. Normalmente se faz isso num processo de reciprocidade. Não foi o caso.
Os gringos, sem nos dar nada, querem ainda que o Brasil abra mão do tratamento diferenciado que lhe é assegurado como país em desenvolvimento na Organização Mundial de Comércio. Isso nos dá algumas vantagens competitivas perante as nações mais desenvolvidas, como é o caso dos Estados Unidos. Bolsonaro se comprometeu a atender.
Em troca, Donald Trump prometeu “trabalhar” para que o nosso país se torne membro da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico -OCDE. O único problema é que cinco outras nações – Argentina, Peru, Croácia, Bulgária e Romênia- esperam pela mesma distinção.
Trump já se manifestou a favor da candidatura da Argentina e gostaria que fosse dada preferência ao nosso vizinho do cone sul que fez o pedido de adesão em 2016, um ano antes do Brasil.
Não sei, mas me parece muito pouco o saldo dessa visita. Talvez tenhamos saído de lá com uns espelhinhos, uma visitinha-bônus de cortesia à CIA. Mas pode ser que eu esteja sofrendo de alucinações por ser jornalista. Afinal, Olavo de Carvalho, esse ilustre brasileiro, filósofo e escritor assim nos definiu: “A mídia é louca e todos os jornalistas são viciados em drogas”.
Então, desculpa aí.

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