Antônio Melo: Lá vamos nós de volta ao passado

Antônio Melo, jornalista - Fecho os olhos e revejo aquelas multidões de amarelinhos, peito estufado, bandeiras do Brasil em riste, para derrubar os quase 60 milhões de votos que elegeram Dilma Russef, presidente. Queriam o “probo” Aécio Neves. Se não conseguiram no voto, correram para o tapetão para transformar um pato amarelo na fotografia do brasileiro de hoje: otário, bobo –um verdadeiro pato. Intento conseguido, construiu-se a ponte -Michell Temer- para o Mito substituindo o pato, mas com os mesmos efeitos, com o discurso da intolerância chegar ao Planalto, não como presidente de todos. Mas presidente de uma horda que ainda não se apercebeu que o Brasil não precisa deles, mas de quem lacre as urnas, cicatrize feridas, nos conduza ao futuro prometido e até hoje não entregue.
Somos hoje passageiros de uma triste viagem de volta ao passado. Enaltecemos ditaduras mundialmente reconhecidas como genocidas. Só por ditaduras já mereciam o desprezo. O genocídio nenhum civilizado há de aceitar.
Vejo na imprensa, todos os dias, a fotografia da viagem que fazemos ao passado, fixada pelas lentes irretocáveis do IBGE: somos os mesmos 12 milhões e tantos de desempregados de antes, nos faltam vacinas para imunizar 5 milhões de crianças desprotegidas pela incúria administrativa do ministério da saúde. Temos no presente a fotografia do Brasil do passado. O Brasil do sarampo que se propaga e mata filhos da pátria em pleno século XXI. Como nos tempos de Oswaldo Cruz, a dengue prolifera e cresce 600%, zica e outras mazelas evitáveis reproduzem a mesma estatística. Como no passado, as mentiras do ministro do meio ambiente e a desfaçatez do presidente escamoteando o devastador avanço do desmatamento e multiplicação das queimadas criminosas são desnudadas pelos incêndios, a maioria criminosos, da Amazônia.
O futuro representado pela juventude, está embarcado conosco nessa viagem de terror que lhes nega acesso a uma universidade onde o saber recebesse incentivos e não corte de verbas, de bolsas, de cursos. Onde a cultura, como no passado, voltou a ser domada pela censura obscurantista.
E é nessa viagem ao passado que nos assombra que se transformou o atual governo. Não sabemos para onde o maquinista nos leva, porque nem ele sabe qual o papel do condutor de uma locomotiva. Não há planos para a economia, para o amanhã, nem mesmo para agora à tarde. Simplesmente não há planos. Só para a sucessão.
Se alguém souber para onde estamos sendo levados, que diga. Qual o plano? A reforma tributária pode ser a salvação, como já se acreditou seria a da previdência, a trabalhista. O Brasil se resume a promessas que nunca se realizam, ao “risco Bolsonaro” representado pelas declarações e atitudes estapafúrdias de um presidente imprevisível?
Para terminar, uma imagem não me sai da cabeça: Marcelo Odebrecht -livre, leve e solto- ostentando seu sorriso de vencedor de volta à empresa que tem o nome da sua família.
Ele e Queiróz, assessor Mandrake de Flávio Bolsonaro, são a cara do Brasil de hoje. O gigantesco, amarelo, monumental pato da Fiesp, a nossa cara. A cara de pato do brasileiro.

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