Antônio Melo: A impetuosidade tem preço alto

Antônio Melo: E nada mais será como antes
Antônio Melo
jornalista

Houve muito dedo duro apontado para os que tiveram nomes citados em algumas das várias falcatruas descobertas no mundo político e empresarial. Pouco importava saber se o circunstante era parte da roubalheira ou foi apenas citado. Se estivesse do lado oposto, a citação já era suficiente para jogar sua reputação na lata do lixo.

Monta-se um novo governo. Pode-se, de forma legítima, ser contra as ideias que apresentou durante a campanha. Mas é preciso que tenha tempo para mostrar a que veio. Até agora há alguns sinais que apontam nos dois sentidos: positivo e negativo. A indicação do juiz Sérgio Moro para a Justiça pode ser contabilizada no lado dos sinais positivos. Mesmo que discorde dos métodos dele, de abusos cometidos, do olhar direcionado contra um partido, não se pode negar que fez um bom serviço descobrindo grandes roubalheiras no governo do PT. Hoje sabe-se que as coisas mudaram. Rico vai para a cadeia, sim senhor. Empresário, também. Poderosos –Lula que o diga- estão sob os rigores da Lei. Não diria todos. Novamente o olhar vesgo deixa alguns de outras legendas imunes.

O senhor presidente eleito já avisou que veículo de informação e jornalista que não estiver dentro dos parâmetros do que ele, o presidente, acha certo ou errado, não terá acesso às verbas do Governo Federal. E isso não pode ser contabilizado como coisa boa. Aliás, é muito ruim pois ameaça até a democracia. Já não podemos dizer que no Brasil há liberdade de imprensa, apenas liberdade de empresa. Ainda assim, Sua Excelência, já abriu a caixa de ferramentas mostrando que criticas não serão bem-vindas.

Também não se deve contabilizar a escolha do senhor Ministro da Economia, Paulo Guedes, como positiva. Pode até ser. O problema –mais para Sérgio Moro do que para o resto da população- é que Sua futura Excelência está sob o escrutínio da Polícia Federal, suspeito de atitudes que ficariam melhor no dicionário como estelionato, do que como sinônimo de probidade. Mas até que se prove que é culpado, o dr. Guedes é inocente.

Pretendia comentar sobre a agenda do presidente que ainda não abriu uma brechinha para os chamados invisíveis. Aqueles cidadãos que não têm doutor no nome, não são pastores evangélicos, militares de alta patente, juízes, ruralistas. Fica para depois, por uma questão de espaço.

O que me preocupa são as idas e vindas do presidente que parece impetuoso demais. E, às vezes, inconsequente. Para agradar a Donald Trump –não consigo encontrar outra razão- anunciou que o seu governo, como fez “Tio Sam”, transferiria a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém, um soco na boca do estômago do mundo árabe. O Egito, de pronto, cancelou um evento diplomático que teria com o governo brasileiro. E avisou que se de fato ocorrer o que estava sendo anunciado, haveriam consequências na área econômica. A China também falou grosso em editorial do jornal oficial China Daily, chamando Bolsonaro de “Trump Tropical” e alertando-o que suas atitudes podem ter sérias consequências nas relações comerciais entre os dois países. É bom lembrar que os chineses são os maiores parceiros comerciais do Brasil, com superávit nosso nas transações entre os dois países superior aos 20 bilhões de dólares.

Já os árabes, nunca é demais lembrar, compram metade da carne de frango exportada daqui, dentre inúmeros outros produtos.

Os rompantes presidenciais empolgam seus apoiadores mais entusiasmados, mas podem nos sair muito caros. Principalmente no mundo das relações exteriores. São custos bem mais elevados do que as idas e vindas das decisões do presidente.

Na campanha Bolsonaro disse, e repetiu depois de eleito, que sua presidência teria 15 ministérios. Na quinta feira admitiu que deverão ser 18. Também alardeou que o Ministério da Agricultura seria fundido com o do Meio-Ambiente. Não deverá ser. Os ruralistas não querem. E isso é muito forte. Os ambientalistas, tão pouco. E isso é mais u obstáculo, bem menor que a força dos empresários rurais. O presidente também trombeteou que o Ministério da Indústria e Comércio iria para as mãos do super Paulo Guedes. Tudo indica que não vai. O pessoal das chamadas “classes produtoras” não quer. Anunciou ainda que a Controladoria Geral da União, um absurdo, ficaria subordinada a Sérgio Moro. Se isso acontecesse seria uma controladoria controlada por quem deveria estar sob seu controle, a nova piada do Brasil. O general Augusto Heleno anunciado nos primeiros dias como Ministro da Defesa, não será mais. Agora, o presidente avisa que ele deverá ir para o Gabinete da Segurança Institucional. E para a Defesa, quem vai?

E olhe que a posse só será em janeiro.

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