Antônio Melo: pobre país rico


Antônio Melo, jornalista - Com toda pompa o governo brasileiro anunciou que os Estados Unidos -tão bonzinho- retirou o veto à nossa entrada na OCDE -Organização para Cooperação e Desenvolvimento e Econômico. Em troca, havia exigido que saíssemos da OMC -Organização Mundial de Comércio, coisa que até Jair Bolsonaro nenhum outro presidente concordara.
A OMC tem 164 países membros e garante tratamento especial a todos eles, principalmente com prazos maiores e oportunidades diferenciadas em acordos e compromissos internacionais, coisa que os chamados países desenvolvidos, os da OCDE são impedidos de acessar.
Na Organização Mundial de Comércio o Brasil ocupa posição de liderança. Quando -e se- entrar para a OCDE, vai ocupar a última posição nesse estranho “clube dos países ricos”. Mas teremos que deixar a OMC, abrindo mão de todas as suas benesses e à posição de liderança. Talvez, de uma hora para outra, tenhamos ficado ricos também.
Pouco importa que o nosso ministro da Economia diga alto e bom som que o Brasil está quebrado, no fundo do poço. Desajeitado, sugere até que o parlamento não só autorize o orçamento, mas também diga em que o executivo pode gastar. Algo assim como você pagar ao seu empregado e dizer como ele pode gastar o salário que ganha.
Bom, mas deixa para lá. Estamos batendo à porta do clube dos ricaços, não importando que o número de pobres por aqui, segundo a última pesquisa PNAD, tenha passado de 53 para 55 milhões, sendo que dentre estes, 15 milhões são miseráveis. Fazem a mágica de sobreviver com menos de 140 reais por mês. Já os pobres têm situação melhor, sobrevivem com até 406 reais. Também nem precisa considerar o número de desempregados ter ultrapassado em centenas de milhares a casa dos 13 milhões de brasileiros.
O que importa é que estamos em marcha batida para a OCDE, o clube dos ricos, o paraíso. Claro que seria muito bom que os quase futuros colegas não soubessem, por exemplo, que no Piauí, segundo a mesma pesquisa, 91% da população não tem nenhum tipo de esgotamento sanitário; que no “Brasil acima de tudo” mais de 15% da população ainda não tem acesso a abastecimento d’água, e 10% não têm coleta de lixo. Aliás, nesse particular o Maranhão continua imbatível: 33 por cento das casas não conta com esse serviço. Já no Acre, em pleno século XXI, 33% das casas não têm banheiro.
Mas somos ricos, sim. Vamos entrar para a OCDE. Botamos até a nossa base espacial de lançamento de satélites, em Alcântara, do Maranhão que não consegue recolher o lixo das casas, à disposição dos americanos, da Nasa.
Ah, tem um pequeno detalhe. Para fazer parte da OCDE a gente tem que pagar uma grana preta. O governo ainda nem disse quanto é. A imprensa anda pressionando, bisbilhotando, querendo saber, mas o pessoal do Planalto diz que ainda não sabe, que é intriga, fakenews.
Mas vai faltar dinheiro não. Dando mais um apertinho na educação, na saúde... Com certeza tem. Tem sim.

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