Edgar Moreno: Coisas do Tempo

Por Edgar Moreno
COSTA FILHO, João Batista da que também representa o heterônimo Edgar Moreno.



Se bem observares, leitor, há várias coisas, grandiosas ou pequenas, sábias ou bestas com as quais podes diariamente ocupar o teu tempo. Longe de te achar um desocupado, uma delas é sobre o teu próprio tempo. O que tu andas fazendo com ele? E ele contigo? Já observaste que as pessoas andam sempre se queixando da “falta de tempo”? E tu não hás de ser diferente! Se não te falta tempo para os negócios, falta-te para a família; se não falta para a internet, falta para um livro; se não falta para uma “loura gelada” ou morena no barzinho, falta para aquele velho e adiado check-up na saúde. A verdade é que o nosso tempo parece sempre uma formiga diante das gigantescas ocupações da vida. Não me recordo de ter visto – nem em novelas – alguém vangloriar-se de seu libérrimo período temporal: “Ah! Agora sim, não tenho nada para fazer, já concluí todas as minhas tarefas, não tenho absolutamente nenhuma obrigação pelas próximas 24 horas. Estou livre, leve e solto!”.
E cuidado, leitor, se teimares em achar-te aí incluso poderão te chamar “vagabundo” ou pelo menos “folgado”. Mas ao contrário desse “tempo livre” que não temos, o que se vê são argumentos do tipo: “Não posso, estou sem tempo”, “Só um instantinho, que já volto”, “Deixe o seu recado na caixa postal”, “Agora não dá, estou superatrasado”, “Nossa, como o tempo voa!”, “Depois te ligo, estou em reunião” ou “Tchau, já tô de saída”.
Uma coisa é certa: mesmo de forma fútil, grandiosa ou singular, o tempo há de ser preenchido de algum modo e não há rico ou pobre que o possa preenchê-lo satisfatoriamente, pois ele é o agente temporal da realização e da cobiça humana. Todo mundo quer um tempo, mas não dá um tempo para pensar sobre isso. E não preciso ir longe. Mesmo me redescobrindo um sujeito do tipo assíduo, mas não pontual, prefiro ir me abrasileirando cada vez mais, chegando com a reunião em curso, deixando a parte da crônica para amanhã, importando-me com as efemeridades do tempo cotidiano. O famoso horário britânico tão defendido por minha colega Aline nunca bateu à minha porta.
Fico pensando se o tempo tivesse que esperar por aqueles passos-tartaruga de muita gente por aí, estaríamos em que século atrás? Como já dizia Cazuza: “o tempo não para”, também não espera para que amarremos o cadarço. Gostei dessa frase. Vou batizá-la como minha! Se, porém, a situação fosse oposta, caso o tempo não conseguisse acompanhar as pessoas em suas vanguardas, que bicho já seríamos por antecipação?
Melhor voltar ao teu tempo, leitor. Tu o andas ganhando ou perdendo? Mas quando é que realmente se ganha ou se perde o nosso precioso tempo? Isso me parece ser um caso de opinião muito particular. O que para uns é ganhar tempo para outros pode ser justamente o contrário e vice-versa. É algo do ser humano semelhante ao que reza a teoria de Einstein: tudo é relativo. O que te parece mais “importante”, a infância ou maturidade? O manjar ou diploma? O sim ou o não? Tudo há de ter, no seu tempo, sua singular importância. Outro dia fiquei por algum tempo olhando umas formigas na calçada, e a matutar: “o que elas ‘pensam’, ‘falam’ ou ‘planejam’? Enfim, como é ‘na pele’ ser uma formiga?” Sabe-se que, tais como as abelhas e cupins, elas formam colônias muito bem organizadas, por exemplo, no cumprimento dos seus deveres e nas relações “interformigais”. Mas... elas têm esperança, amor, frustrações?... Sei apenas que pouca gente já parou para refletir sobre essas pequenas criaturas, que elas fazem parte do ciclo da vida e coisa e tal. Se as formigas, porém, não te despertam nenhuma atenção e nada podes aproveitar de qualquer outro animalzinho semelhante, então não és digno de “perder” teu tempo com este escrito que acabo de ganhá-lo, roubando-o do teu tempo.

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