Antônio Melo: Errou. A novidade não é mais notícia

Por Antônio MeloJornalista

Notícia quer dizer novidade. E a grande novidade, a maior de todas, na lista de Fachin, foi a inclusão do nome do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso como um daqueles a serem investigados pelo ministério público/polícia federal. Mas eu devo estar desatualizado e jornalismo não é mais nada disso.


À noite os telejornais disseram que FHC estava na lista. Por que? Não disseram. E nem disseram mais nada sobre o assunto. Dois segundinhos, na Globo. Minhas esperanças, e certamente as suas, estavam todas nos jornais do dia seguinte. A “Folha” ainda deu alguma coisa, mas não esclareceu nada. A primeira página do Estadão esmerou-se em falar sobre os processos de Lula/Dilma (aquelas novidades que já têm três anos). O Globo não fez diferente. Os comentaristas da Globonews –puxa vida, nem mesmo uma palavrinha. E são todos meus contemporâneos lá de Brasília e São Paulo. Colegas do velho jornalismo onde a novidade é que era notícia. Pode ser que tenham desaprendido, ou a casa não deixe.


As consequências disso tudo é que a classe política –e a própria política- estão sendo destruídas. Há um movimento organizado com o intuito único de demonizar os políticos, principalmente lideranças mais próximas ao povo. Recentemente distribuiu-se um vídeo, por sinal muito bem feito, mostrando quanto é caro o nosso parlamento. Muitos daqueles números não resistem a uma checagem mais aguçada. Mesmo assim, é caro mesmo.


A sugestão implícita, principalmente para os jovens, é que não precisamos da representação popular. Ela é indispensável, digo eu. Alguém já se perguntou, por exemplo, quanto custa o reino da Inglaterra? A vetusta família real? Seus augustos palácios? E não me venham dizer que a comparação não vale pois, mesmo quando, na guerra a Inglaterra estava em escombros, não se cogitou da extinção do reino e suas mordomias. Além do mais, para que serve mesmo a rainha da Inglaterra e sua nobre família real? O que faz a rainha? Tricô?
Voltando ao reino de Poti, durante todo esse tempo de Lava Jato, jogaram-se na fogueira da inquisição da opinião pública os integrantes da famosa lista de Janot. Perante esse tribunal, não eram investigados. Mas uma quadrilha. Pra fogueira, portanto.


Agora tem-se a lista de Fachin. Uma salada de partidos, nomes, cargos e vaidades feridas. Acusadores empedernidos que podem virar réus. Delatores glorificados, instituições fragilizadas. Que não se saia novamente repetindo os mesmos adjetivos precipitados, condenatórios por antecipação. Que não se joguem reputações as lavaredas da inquisição.
A que serve tudo isso?


A “Folha” de quinta feira deu uma pista numa matéria cujo resumo mostra bem este bastidor: Por trás de tudo isso, há uma articulação para eliminar a classe política e abrir espaço a um novo projeto de poder capitaneado pelos que comandam a operação Lava Jato.


Mas, preocupados, os políticos se mexem. Discretamente, existiria uma articulação envolvendo os ex-presidentes FHC e Lula mais o presidente Temer, em defesa da classe política e da preservação da democracia. Nesta tese trabalhariam como articuladores, por merecer a confiança do trio, o ex-ministro do STF, Nelson Jobim e o atual, Gilmar Mendes. Temer ficaria no poder até 2018, quando haveriam eleições com Lula concorrendo, mesmo se condenado em primeira instância.


A ver.


Artigo publicado originalmente no PORTALnoar

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