Antônio Melo: Brincando com fogo

Antônio Melo, jornalista - O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, dançou sobre a ponte Rio-Niterói, ante o cadáver de um jovem sequestrador -abatido correta e profissionalmente durante um surto psicótico- os seus passinhos de uma coreografia macabra que imagina o levará ao Palácio do Planalto.
Disposto a abate-lo e, para isso, manejando uma metralhadora verbal que já vitimou quase meia centena de auxiliares que atravessaram o caminho para o alvo, está Jair Bolsonaro. Witzel é um adversário desprezível que se destrói por autocombustão a bordo de um helicóptero da polícia tentando metralhar bandidos que só ele enxergava, ou na sua obscena dancinha que constrangeu até os policiais que desempenharam com eficiência e zelo as suas obrigações.

Pelo menos com esse adversário Bolsonaro não vai se preocupar. Como, igualmente, não deveria estar entre suas preocupações, pelo menos agora, a reeleição, já que as urnas presidenciais só serão consultadas novamente em 2022. Mas para o nosso presidente, reeleição é o que importa. E é por isso que trabalha. O resto, é perfumaria.
Para ele tanto faz se a economia, ao contrário do que dizem, está se desmilinguindo. (No ministério de Paulo Guedes -Diário Oficial de quinta feira- foram cortados estágios, novas consultorias (mesmo as indispensáveis), telefonia, uso de dados, viagens, diárias e até o cafezinho. Isso tudo para tentar fazer com que o dinheiro chegue ao fim do ano);
Também não importa se a Amazônia está em chamas no solo brasileiro, nas páginas dos principais jornais do mundo, nas telas das tvs em todas as línguas faladas no planeta, na boca do papa, das maiores celebridades (esportivas, do cinema, do entretenimento) de presidentes, soberanos, de comunistas, capitalistas, católicos, evangélicos, muçulmanos, umbandistas, ongs, ruralistas, alternativos, patrões, empregados, desempregados ... só não está na boca do nosso presidente e do seu ministro do meio ambiente, Ricardo Salles. Para eles, tudo é culpa das ONGs.
Toda a atenção do presidente parece voltada aos seus projetos pessoais e o Brasil que se dane. Como está se danando. E que projetos são?
O primeiro, o da reeleição. Na mira, agora, Sérgio Moro em quem o presidente vem atirando, de várias formas. Por hora, tenta abate-lo interferindo diretamente na Polícia Federal, ameaçando o Diretor Geral. Já deixou bem claro que é ele, Bolsonaro, quem manda. Moro, não. Uma tentativa de desprestigiar, humilhar o auxiliar. Sérgio Moro, ex-juiz todo poderoso, ex-superministro, apequena-se.
Enquanto as queimadas seguem lançando suas nuvens de fumaça sobre nossas cidades, o mundo se mexe. Em alguns casos, até com oportunismos, exageros. O próprio presidente da França usou uma foto de uma queimada de 2003 na Amazônia para ilustrar sua fala. Há diversos outros casos semelhantes.
Mas isso não diminui em nada o descaso e a omissão do nosso governo. A tentativa de desmoralizar o INPE, instituição científica respeitada no mundo inteiro que atestou o crescimento assombroso das queimadas, do desmatamento agora referendado pelos satélites da Nasa, instituição dos Estados Unidos que o nosso presidente tanto reverencia e ao qual, prestimoso, bate continência.
Além da reeleição, o presidente quer deixar bem sua família fazendo o filho Eduardo embaixador e fazer escapar ileso outro filho, Flávio, das encrencas político-policiais em que anda metido.
Minha mãe já dizia: com fogo não se brinca.
Por falar nisso, cadê Queiroz?

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